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Você já se pegou perguntando como acalmar turmas agitadas? Eu me lembro perfeitamente da primeira vez que senti que havia perdido o controle da minha sala de aula.
Eram 35 alunos do 7º ano, uma tarde de sexta-feira quente, e eu, uma professora recém-formada da faculdade, cheia de teorias e ideais.
O zumbido das conversas era maior que a minha voz. Meus planos de aula, tão cuidadosamente elaborados, estavam indo por água abaixo.
Eu tentava falar mais alto, ameaçar com provas, suplicar por silêncio. Nada funcionava. Naquele dia, saí da escola com uma dor de cabeça latejante e uma pergunta ecoando na mente: "Onde foi que eu errei?"
Anos depois, compreendo que eu não havia "errado". Eu simplesmente ainda não sabia. A agitação em sala de aula raramente é um ataque pessoal.
Ela é um sintoma. É a linguagem que os alunos usam para dizer que estão entediados, sobrecarregados, desafiados de menos ou até mesmo que estão passando por coisas que nem imaginamos.
Então, colega, se você está lendo isso com o cansaço da última aula turbulenta ainda marcado no seu rosto, quero te convidar para uma conversa.
Vamos deixar de lado os clichês do "tenha pulso firme" e mergulhar no que realmente funciona. Vamos falar de estratégias, sim, mas também de humanidade. Porque educar é uma arte que se aprende na prática, todos os dias.
A Agitação da Sala de Aula Não é o Problema, é o Sintoma
A primeira grande mudança de mentalidade que tive que fazer foi parar de ver a agitação como o inimigo a ser derrotado.
Quando encaramos a turma como um adversário, entramos em um campo de batalha. E numa batalha, sempre há perdedores. Nós, professores, não podemos nos dar ao luxo de ter alunos perdedores.
Pense comigo: o que está por trás daquela conversa paralela, do balançar incessante da cadeira, do aluno que não para de se levantar?
Pode ser tédio. Uma aula puramente expositiva, em um mundo de estímulos visuais e interatividade, é como tentar competir com um cinema cheio de filmes 3D usando um rádio antigo.
Pode ser ansiedade. A pressão por notas, os problemas em casa, a própria dinâmica social da escola.
Um estudo publicado no periódico Journal of School Psychology (2019) correlaciona altos níveis de estresse em crianças com comportamentos disruptivos em sala, uma forma de extravasar a angústia que não conseguem nomear.
Pode ser uma necessidade não atendida. O aluno com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) não está agitado para te irritar.
Seu cérebro funciona de maneira diferente e exige estratégias específicas. A lei brasileira, através da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, garante o direito a essas adaptações. Ignorar isso é fechar os olhos para a diversidade humana.
Pode ser, simplesmente, energia acumulada. Crianças e adolescentes não foram feitos para ficar estáticos por horas a fio. Sua biologia pede movimento.
Quando começamos a investigar as causas, deixamos de ser guardiões da ordem para nos tornarmos detectives do aprendizado. E é aí que a mágica acontece.
Leia também: Professor Iniciante, Veja o que a Faculdade Não te Ensinou
Estratégias Para Sala De Aula que Funcionam na Vida Real
Teoria é linda nos livros, mas a sala de aula é um organismo vivo e imprevisível. Separei aqui algumas estratégias que testei, refinei e que se tornaram pilares da minha prática docente. São táticas, não truques de mágica. Elas exigem consistência.
Os primeiros cinco minutos de aula são os mais importantes. Se você os perde, luta o resto do tempo para recuperá-los.
Eu abandonei a ideia de começar a aula no silêncio absoluto. Em vez disso, criei um ritual de entrada. Ao chegar na sala, os alunos encontram no quadro uma pergunta curta, um enigma, uma imagem intrigante ou uma música relacionada ao tema do dia.
Enquanto eles entram, conversam e se acomodam, aquele estímulo já está trabalhando por mim. A curiosidade é ativada.
A transição do recreio para a aula se torna mais suave e natural. Eles não precisam "desligar" a energia do intervalo para "ligar" a da aula instantaneamente. Eles fazem uma mudança de faixa.
Outra técnica poderosa é receber cada aluno na porta. Um olho no olho, um "bom dia" com o nome da pessoa, um aperto de mão para alguns. Isso humaniza o contato. O aluno se sente visto como indivíduo, não apenas mais um na massa.
Não Grite Com Seus Alunos
Eu desaprendi a gritar. Gritar é uma confissão de que perdemos o controle. E é cansativo para nós. Em vez disso, eu baixo o tom da minha voz. Falo quase num sussurro.
Isso soa contra intuitivo, mas funciona. Os alunos, para te ouvir, precisam se calar. E o ato de se concentrar para escutar algo baixo os acalma internamente. É uma técnica antiga, mas infalível.
Use sinais combinados. Uma palma, um sinal visual, uma palavra-chave. Eu combinava com as turmas: quando eu levantasse a mão, era o sinal para que todos que estivessem vendo fizessem o mesmo e ficassem em silêncio. É muito mais eficiente e respeitoso do que "Pessoal, quietos!".
Movimente-se na Sala de Aula
Lembra quando falei da energia acumulada? Vamos usá-la a nosso favor. Inclua pausas ativas na sua aula.
A cada 20 ou 25 minutos, proponha um "intervalo cerebral". Pode ser um alongamento coletivo, um "pedra, papel e tesoura" com o colega do lado, ou uma instrução simples: "Levantem e encontrem três pessoas para compartilhar a resposta da questão 3".
Isso não é perda de tempo. É investimento. Um artigo da Revista Brasileira de Educação (2021) destaca que "pausas pedagógicas com movimento melhoram a retenção de informações e reduzem a ansiedade e os comportamentos de agitação".
Quebre a lógica do "senta e escuta". Permita que os alunos se movimentem para pegar materiais, para escrever em estações de trabalho espalhadas pela sala, para apresentar um trabalho na frente. A sala de aula pode ser um espaço dinâmico.
A Conexão que Constrói a Autoridade Do ProfessorNenhuma técnica funciona se não houver conexão genuína. Os alunos não obedecem a regras, eles respeitam pessoas.
Isso me lembra de um caso real que comoveu o país. Em 2023, a notícia de um professor de Pernambuco que conseguia manter sua turma de adolescentes totalmente envolvida nas aulas de História ganhou as redes sociais. Sua técnica?
Ele usava a cultura do rap e do funk para explicar os conteúdos, mostrando as conexões com a realidade dos alunos. Ele não abaixou o nível. Ele elevou o interesse. Ele construiu uma ponte.
Isso é conexão. É conhecer os interesses deles, lembrar do aniversário, perguntar sobre o jogo do time no final de semana, demonstrar interesse genuíno pela vida deles. A autoridade que vem do respeito é infinitamente mais poderosa e duradoura que a autoridade que vem do medo.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fala em desenvolver competências socioemocionais. Isso não é um capítulo à parte no livro. É a base do relacionamento professor-aluno.
Um aluno que se sente acolhido e compreendido é um aluno muito menos propenso a perturbar o ambiente de aprendizagem.
Quando a Situação Sai do Controle: Plano BMesmo com todas as estratégias, haverá dias em que a tempestade virá. E para isso, precisamos ter um plano de ação.
Pausa Estratégica
Se a agitação atingir um pico, pare tudo. Não tente competir. Finque os pés no chão, respire fundo e espere. O silêncio do professor, quando feito com calma e intenção, é assustadoramente eficaz.
Em seguida, fale de forma clara e direta: "Estou esperando." Não ameace, não se exalte. Apenas espere. A pressão do grupo fará com que os próprios colegas peçam silêncio.
A Conversa Individual e a Ação Restaurativa
Nunca, jamais, constranja um aluno publicamente de forma negativa. Isso só gera ressentimento e mais agressividade.
Se um aluno está com um comportamento inadequado, combine um sinal discreto com ele. Um toque na mesa ao passar por perto pode ser o lembrete de que ele precisa se autorregular.
Para conflitos mais sérios, a prática da Justiça Restaurativa é um instrumento legal e poderoso. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê medidas que privilegiam a reflexão sobre a punição pura e simples.
Em vez de apenas punir, promova um círculo de conversa. Faça perguntas: "O que aconteceu?", "Como você se sentiu?", "O que podemos fazer para reparar isso?". Isso ensina responsabilidade e empatia.
O Cuidado de Quem Cuida
Professor (a), preciso ser franca com você. Você não conseguirá acalmar uma turma se estiver você mesma a um passo de um colapso. O burnout em professores é uma realidade assustadora.
Nós, professores, somos como copos. Se nosso copo está vazio, não temos nada para oferecer aos alunos. A agitação deles muitas vezes reflete o nosso próprio esgotamento.
Permita-se descansar. Desative as notificações do grupo da escola. Tenha um hobby que não tenha nada a ver com educação.
Cuidar de você não é egoísmo. É a condição básica para poder cuidar do aprendizado dos outros.
Conclusão
Acalmar uma turma agitada não é sobre impor silêncio. É sobre criar um ambiente onde o aprendizado seja tão interessante e significativo que valha a pena prestar atenção.
É uma construção diária, feita de pequenos gestos, estratégias consistentes e, acima de tudo, muita paciência e afeto.
Você é capaz. Você é resiliente. E você é mais importante do que imagina. Agora, respire fundo e vamos para a próxima aula.
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