professora em frente a lousa estressada
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Já vivi dias em que pensei seriamente em desistir. Sabe quando você chega à escola sentindo que o peso do mundo está nas costas? 

Alunos desmotivados, cobrança da gestão, metas irreais, pais exigindo respostas imediatas e uma pilha de relatórios que parecem nunca ter fim. 

Nessas horas, a sensação é de que ser professor exige mais do que preparo pedagógico — exige fôlego emocional.

Durante muito tempo, eu me cobrei por não dar conta de tudo. Achava que bastava “ser forte”. 

Só depois de muitos anos de sala de aula percebi que a força que nos mantém de pé não é a mesma que nos faz adoecer. Trabalhar sob pressão faz parte da profissão, mas desabar não precisa ser.

O que eu aprendi — e quero dividir com você — é que é possível sustentar a prática docente mesmo em contextos hostis, sem abrir mão da saúde mental nem da ética. E isso não tem nada a ver com frases motivacionais. É sobre lucidez, estratégia e consciência profissional.

Entendendo O Que Está Por Trás da Pressão

Antes de falar de soluções, é preciso reconhecer o que está nos pressionando. Não é “frescura”, nem “falta de vocação”. É estrutura.

O Relatório “Professores no Brasil: Novos Contextos, Novas Demandas”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2023), aponta que o professor brasileiro está entre os mais sobrecarregados do mundo. 

Passa, em média, 42 horas semanais em atividades ligadas à escola — e grande parte desse tempo é gasto com burocracia, não com ensino.

Somado a isso, há a cobrança social. Espera-se que o professor ensine, eduque, cuide, resolva conflitos e ainda sorria. É uma lógica perversa que transforma vocação em resistência e responsabilidade em culpa.

A Lei nº 13.005/2014, que institui o Plano Nacional de Educação (PNE), prevê no artigo 15 que a valorização do magistério inclui condições adequadas de trabalho e tempo para formação e planejamento. 

Mas, na prática, esse direito raramente é respeitado. E é nesse hiato entre o que a lei garante e o que a escola oferece que nasce o esgotamento.

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O Que Diz a Ciência Sobre o Estresse de Professores

Um estudo da Revista Brasileira de Educação (Oliveira e Castro, 2021) mostrou que o estresse crônico entre professores está diretamente ligado à falta de autonomia e reconhecimento

Quando o educador sente que sua voz não tem peso nas decisões pedagógicas, o desgaste emocional cresce.

Outro artigo publicado na Educação e Pesquisa (Silva, 2022) destaca que professores submetidos a pressões institucionais constantes têm três vezes mais chances de desenvolver sintomas de ansiedade e insônia.

Essas pesquisas só confirmam o que a escola já grita: ninguém adoece porque quer. O adoecimento docente é resultado de contextos que naturalizam o excesso e silenciam a dor.

O Que Aprendi Sobre Lidar Com a Pressão

Depois de anos me sentindo à beira do colapso, precisei aprender, na prática, a colocar limites e criar estratégias de sobrevivência profissional.

1. Pare De Achar Que Dar Conta De Tudo É Sinal De Competência

Essa é a primeira armadilha. Não somos máquinas. A Resolução CNE/CP nº 2/2015, que trata da formação docente, reforça a importância da autoavaliação e do equilíbrio emocional como parte do exercício ético da profissão. Cuidar de si não é luxo — é dever profissional.

Comecei a priorizar. Se o dia tem 24 horas, e a escola parece querer 30, aprendi a entregar o que é essencial e parar de me culpar pelo resto. A autocrítica é necessária, mas o autoabandono não é virtude.

2. Planeje Para Reduzir o Caos

Um bom planejamento é uma forma de proteção. Quando tenho clareza do que quero alcançar com cada aula, a rotina fica menos pesada. 

Não é questão de controlar tudo, mas de evitar o improviso constante, que suga energia e aumenta o estresse.

O artigo 13 da LDB (Lei nº 9.394/1996) define o planejamento como atribuição do docente. Ter autonomia para isso é direito — e também uma ferramenta de equilíbrio.

3. Aprenda a Dizer “Não” Sem Culpa

Durante muito tempo, eu dizia sim a tudo. Projetos extras, eventos, substituições. Até que percebi que meu “sim” constante estava custando minha saúde. Hoje, quando nego algo, não é por desinteresse, é por lucidez.

O Código de Ética do Servidor Público (Decreto nº 1.171/1994) lembra que o servidor deve exercer suas funções com eficiência, mas também respeitando seus limites humanos. O excesso não é eficiência, é desorganização institucional.

4. Crie Redes de Apoio Entre Colegas

Nenhum professor deveria enfrentar a pressão sozinho. Conversar com colegas que entendem a realidade da escola ajuda a diminuir o peso. Em um grupo de confiança, não há julgamento, há escuta. E escuta salva.

5. Busque Formação Que Fortaleça, Não Que Sobrecarregue

Nem toda formação é libertadora. Há cursos que apenas ampliam o cansaço, impondo novas exigências. Prefira formações que dialoguem com sua realidade e te ajudem a reorganizar a prática. 

A BNCC e as Diretrizes Curriculares Nacionais destacam a formação continuada como processo reflexivo, e não apenas certificador.

Quando A Pressão Vem da Gestão

Muitos professores me escrevem dizendo: “O problema não são os alunos, é a coordenação”. E eu entendo. Já vivi gestões autoritárias, que confundiam cobrança com liderança.

A Lei nº 8.112/1990, que regula o regime jurídico dos servidores públicos, garante ao trabalhador tratamento respeitoso e ambiente saudável. Se a cobrança vira assédio, isso não é mais “pressão do cargo”, é violação de direito.

É possível — e necessário — dialogar com a equipe gestora. Quando o diálogo não funciona, o professor pode acionar o sindicato ou registrar formalmente o ocorrido. Ética não é submissão; é firmeza.

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A Realidade dos Professores Mostrada Pela Imprensa

Em reportagem da CNN Brasil foi divulgado que aproximadamente um terço dos professores da educação básica sofre da síndrome de burnout — estudo da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) mostra que o estresse, a baixa remuneração e a pressão por resultados estão entre os fatores principais.

Estratégias Simples Que Mudaram Minha Rotina

A pressão não desaparece. Ela faz parte do ofício. Mas aprendi que é possível trabalhar sob pressão sem se perder de si. São ajustes pequenos que, na prática, mudaram completamente minha relação com a rotina escolar.

Separar O Que É Urgente Do Que É Importante

Nem toda cobrança merece resposta imediata. Aprendi a olhar para a agenda e distinguir o que precisa ser feito agora do que pode esperar. Essa seleção me devolveu o controle dos meus dias e reduziu o sentimento constante de atraso.

Criar Micro Pausas Durante O Expediente

Parei de acreditar que produtividade é sinônimo de correria. Hoje, entre uma aula e outra, tiro cinco minutos para respirar, beber água ou simplesmente fechar os olhos. Essas pequenas pausas valem mais do que longos desabafos depois do colapso.

Desconectar De Grupos Escolares Fora Do Horário

Meu tempo livre também é profissional — é nele que recupero energia para estar inteira no dia seguinte. Silenciei notificações e deixei de responder mensagens escolares à noite. Essa simples atitude me devolveu a sensação de ter vida fora da escola.

Fazer Terapia Sem Culpa

Durante muito tempo, achei que terapia era sinal de fraqueza. Hoje entendo que é ferramenta de autoconhecimento e prevenção. Conversar com um profissional me ajudou a enxergar o que é meu e o que pertence ao sistema escolar — e essa separação salvou minha saúde mental.

Celebrar Pequenas Vitórias

Nem toda conquista é visível. Às vezes, o sucesso está em manter a calma numa reunião tensa ou conseguir dar uma boa aula mesmo exausta. Passei a reconhecer esses momentos como vitórias legítimas. É assim que sigo inteira, mesmo em meio à pressão.

Humanizar a Docência É Um Ato Político

Quando cuidamos de nós, estamos cuidando da escola. A docência humanizada é também uma forma de resistência. E não falo de romantizar o sofrimento, mas de recusar a lógica de exploração que tenta transformar o professor em mártir.

A Revista Educação e Sociedade (Freitas, 2022) discute que a sustentabilidade emocional do professor é um componente central da qualidade do ensino. O aprendizado não floresce em solo adoecido.

A escola que valoriza o bem-estar docente está cumprindo a função social da educação prevista no artigo 206 da Constituição Federal, que assegura a valorização dos profissionais da educação e condições dignas de trabalho.

Conclusão: Resistir Não É Sofrer

Trabalhar sob pressão é parte da realidade de quem ensina. Mas adoecer por isso não precisa ser. O que nos sustenta não é a força bruta, é o discernimento.

Aprendi que resistir é escolher o que vale a pena. É continuar ensinando sem se perder de si. É dizer “hoje não dou conta”, e ainda assim voltar no dia seguinte porque acredita no que faz.

Não se trata de heroísmo, e sim de lucidez. A docência é um ofício de humanidade — e nenhum humano deve desabar para provar que é bom professor.

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